Inacreditável: autoridades dos EUA divulgam planos secretos de guerra a jornalista por engano

[Inacreditável: autoridades dos EUA divulgam planos secretos de guerra a jornalista por engano]

O editor-chefe do site The Atlantic, Jeffrey Goldberg, foi adicionado a um grupo de mensagens de altas autoridades do governo Trump, por engano, e ficou sabendo dos planos militares secretos de ataque do país aos houthis, no Iêmen, antes de eles acontecerem, em 15 de março.

Ele conta que, em 11 de março, recebeu uma solicitação de conexão no Signal, uma plataforma de mensagens criptografadas muito utilizada por jornalistas e outros profissionais que desejam mais privacidade que aquela oferecida pelo Wahtsapp, por exemplo. 

O solicitante se identificava como Michael Waltz, nome do conselheiro de segurança nacional do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. 

"Presumi que o Michael Waltz em questão era o conselheiro de segurança nacional do presidente Donald Trump. Não presumi, no entanto, que a solicitação fosse do verdadeiro Michael Waltz. Eu o conheci no passado e, embora não tenha achado particularmente estranho que ele pudesse estar entrando em contato comigo, achei um tanto incomum, dada a relação contenciosa do governo Trump com jornalistas — e a fixação periódica de Trump em mim especificamente", conta Goldberg.

Em outubro do ano passado, o então candidato Trump chamou a The Atlantic de "uma revista fracassada dirigida por um cara chamado Goldberg". Por conta disso, o jornalista achou que a abordagem seria uma tentativa de prejudicá-lo. "Imediatamente passou pela minha cabeça que alguém poderia estar se passando por Waltz para, de alguma forma, me prender. Não é incomum hoje em dia que atores nefastos tentem induzir jornalistas a compartilhar informações que poderiam ser usadas contra eles."

Grupo de autoridades

No entanto, dois dias depois, Goldberg foi adicionado a um grupo de mensagens denominado “pequeno grupo Houthi PC”, onde o perfil identificado como Michael Waltz dizia: “Equipe – estabelecendo um grupo de princípios [sic] para coordenação sobre Houthis, particularmente para as próximas 72 horas. Meu vice Alex Wong está reunindo uma equipe de tigres no nível de delegados/chefes de gabinete da agência, dando continuidade à reunião na Sala de Situação desta manhã para itens de ação e enviará isso mais tarde esta noite.”

Ali, o jornalista viu mensagens de contas com nomes ou iniciais de altos funcionários, incluindo o vice-presidente JD Vance, o diretor da Agência Central de Inteligência John Ratcliffe, a diretora de Inteligência Nacional Tulsi Gabbard, o secretário de Defesa Pete Hegseth, o secretário de Estado Marco Rubio e o secretário do Tesouro Scott Bessent.

Em 15 de março, o governo Trump bombardeou o Iêmen, citando a interferência dos Houthis no transporte marítimo global devido ao ataque de Israel apoiado pelos EUA à Faixa de Gaza.

Violações da Lei de Espionagem

No The Atlantic, Goldberg publicou citações e capturas de tela do grupo. Contudo, não revelou alguns detalhes devido a riscos de segurança. "O que direi, para ilustrar a chocante imprudência dessa conversa do Signal, é que o post de Hegseth continha detalhes operacionais de ataques futuros no Iêmen, incluindo informações sobre alvos", pontuou.

Segundo advogados entrevistados por seu colega de reportagem Shane Harris, Waltz "pode ter violado diversas disposições da Lei de Espionagem", bem como leis federais de registros, pois ele programou algumas mensagens para eventualmente desaparecerem.

"Todos esses advogados disseram que um oficial dos EUA não deveria estabelecer um tópico do Signal em primeiro lugar. Informações sobre uma operação ativa presumivelmente se encaixariam na definição da lei de informações de 'defesa nacional'. O aplicativo Signal não é aprovado pelo governo para compartilhar informações confidenciais. O governo tem seus próprios sistemas para esse propósito", disse Goldberg.

O jornalista perguntou formalmente sobre o grupo Signal para o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, Brian Hughes. "Esta parece ser uma cadeia de mensagens autêntica, e estamos revisando como um número inadvertido foi adicionado à cadeia... O tópico é uma demonstração da coordenação política profunda e ponderada entre autoridades seniores. O sucesso contínuo da operação Houthi demonstra que não houve ameaças às tropas ou à segurança nacional", justificou Hughes.

A justificativa foi semelhante à de Donald Trump. Quando perguntado sobre a reportagem nesta segunda-feira, ele desconversou. "Não sei nada sobre isso. Não sou um grande fã da The Atlantic. Para mim, é uma revista que está saindo do mercado. Acho que não é uma revista, mas não sei nada sobre ela", relata o Common Dreams.

Quando o jornalista que o questionou explicou que autoridades de alto escalão estavam usando o Signal para coordenar materiais sensíveis relacionados ao ataque dos EUA contra os houthis, o republicano retrucou: "Bem, não pode ter sido muito eficaz, porque o ataque foi muito eficaz, posso lhe dizer isso. Não sei nada sobre isso. Você está me contando sobre isso pela primeira vez."

Cobranças

No Congresso dos Estados Unidos, as cobranças começaram minutos depois da publicação da matéria do The Atlantic. Alguns parlamentares democratas já estão pedindo uma investigação e possíveis repercussões contra as autoridades de segurança nacional envolvidas no episódio.

"Esta é uma violação escandalosa da segurança nacional e cabeças devem rolar", disse o deputado Chris Deluzio, membro do Comitê de Serviços Armados, ao site Axios. "Precisamos de uma investigação completa e de uma audiência sobre isso no Comitê de Serviços Armados da Câmara, o mais rápido possível."

"Não podemos atribuir isso a um simples erro — as pessoas deveriam ser demitidas por isso", disse, também ao Axios, a deputada Sara Jacobs, também integrante do Comitê de Serviços Armados.

Fonte: https://revistaforum.com.br
Foto: Gage Skidmore/Flickr

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