Dia Mundial de Combate ao Câncer traz alerta para importância da prevenção

[Dia Mundial de Combate ao Câncer traz alerta para importância da prevenção]

Ao longo do ano várias datas e campanhas são utilizadas para chamar atenção para a alta incidência de alguns tipos de câncer, formas de tratamento e importância da prevenção. A Organização Mundial de Saúde elegeu o 8 de abril como o Dia Mundial de Combate ao Câncer, ainda que no País a Sociedade Brasileira de Oncologia (SBO) dedique o 4 de fevereiro à mesma mobilização. O que só reforça a importância do tema, e o quanto ele impacta a saúde pública.

De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 704 mil novos casos devem ser registrados no Brasil este ano - 38,8 mil deles na Bahia. O grande número de casos também é acompanhado por muitos avanços tecnológicos na área. Ainda assim, os diferentes especialistas que atuam na oncologia reforçam que é preciso conscientizar a população sobre a importância da adoção de hábitos saudáveis, um grande desafio contemporâneo.

“A prevenção primária através do estilo de vida pode reduzir os fatores de risco responsáveis pelo surgimento da doença. Manter-se no peso adequado, ter uma alimentação equilibrada, não fumar e praticar atividade física regular são medidas que fazem a diferença na prevenção do câncer e de várias outras doenças,” enumera a oncologista Clarissa Mathias, reforçando que o tabagismo e a alimentação inadequada são as duas principais causas evitáveis do câncer.

Clarissa também defende um tratamento multidisciplinar e humanizado, que leve em conta o psicológico e sentimentos como medo, insegurança e até negação. “Confiança e resiliência ajudam a encarar o tratamento e a transformar e ressignificar esse momento da vida com novos hábitos”, afirma a médica, que é líder do Cancer Center Oncoclínicas - Hospital Santa Izabel, reforçando a importância de uma equipe multidisciplinar.

Investigação

Esse olhar humanizado fez toda diferença no diagnóstico e tratamento da advogada Iane Cardim, de 55 anos. Ela não tem receio em afirmar que só está viva porque cruzou com a doutora Clarissa, que é especialista em câncer de pulmão. Depois de uma grande peregrinação e muitos exames para identificar a causa de uma tosse que paralisou sua vida há dez anos, a médica decidiu interná-la para investigar a fundo o problema, que já tinha feito Iane perder 25 quilos e parar de trabalhar.

“Meu diagnóstico demorou muito, mais de seis meses, eu já nem andava mais sozinha. E olhe que avisava a todos os médicos que era fumante. Acredito que faltou um olhar de uma medicina mais globalizada”, afirma Iane, diagnosticada em 2015 com um tumor de grau 4, já em metástase e não operável. Ela iniciou o tratamento com quimioterapia e radioterapia, e já no ano seguinte passou para a imunoterapia, que acabava de ser liberada no Brasil. Iane conta que teve muitos efeitos colaterais com os tratamentos tradicionais e que a imunoterapia lhe devolveu a qualidade de vida. “No meu caso tenho apenas problemas de pele, que minimizo com um bom hidratante e com ingestão de mais água”, afirma Iane, que toma o medicamento a cada 28 dias.

Segundo a doutora Clarissa, a imunoterapia é o que há de mais novo no tratamento do câncer de pulmão, pois estimula o próprio sistema imunológico para combater o tumor, mas ela ainda não está acessível para pacientes do SUS. No caso de Iane, o plano de saúde cobre os custos, entre R$ 4 e R$ 5 mil mensais. “Eu tomo o Opdivo, que é quase o vovô da imunoterapia do Brasil, mas como está funcionando bem não tenho porque mudar”, diz a paciente, acrescentando que o caminho da judicialização acaba sendo uma via para muitos que não podem pagar pelo medicamento e outros similares.

Evitando a palavra cura, ela diz que seu câncer está controlado e que se reinventou após a aposentadoria forçada pela doença. Hoje, integra um grupo de pesquisas na Uneb sobre alunos neuro divergentes e é voluntária da ONG Oncoguia, através da qual participa de várias atividades com pacientes e familiares. “A pessoa com câncer de pulmão sofre um estigma, como se ela tivesse ficado doente por sua própria culpa”, reflete.

Outras dois tipos de câncer com avanços importantes no tratamento é o de intestino e o de próstata, ambos com alta incidência no Brasil: o de intestino é o terceiro tipo mais comum na população em geral e segundo entre homens, só perdendo para o de próstata; entre mulheres também é o segundo, atrás apenas do câncer de mama. Em ambos os casos, o rastreamento feito através dos exames de colonoscopia e do PSA e toque retal é muito importante para o diagnóstico precoce.

No caso do câncer colorretal que inclui também o ânus e o reto, além do intestino - a coloproctologista Meyline Lima explica que a colonoscopia, indicada a partir dos 45 anos, é a melhor forma de identificar os pólipos que podem se tornar cancerígenos. "Quando identificamos a doença nos estágios iniciais, as chances de cura ultrapassam 90%", enfatiza a médica, membro do Núcleo de Proctologia do Instituto Brasileiro de Cirurgia Robótica (IBCR).

A cantora Preta Gil, detectada com um câncer de intestino avançado há dois anos, tem ajudado a chamar atenção para o problema. Perta já passou por duas cirurgias, fez tratamento com quimioterapia e radioterapia e agora segue para os Estados Unidos para participar de um estudo clínico experimental. Mesmo sem acesso aos detalhes do prontuário da artista, Meyline Lima explica que provavelmente ela irá usar drogas, que ainda estão em fase de estudo, e indicadas quando os diferentes tratamentos não respondem mais. Mas a médica reforça que no Brasil os pacientes têm à disposição todas as drogas já regulamentadas.

Segundo a médica, um dos principais avanços no tratamento foi a cirurgia robótica, que permite uma visualização em 3D da área afetada, com movimentos precisos e menos invasivos - fundamentais para a recuperação do paciente. Atualmente, este tipo de cirurgia é realizada em Salvador nos hospitais Santa Izabel, São Rafael e Aliança, para vários tipos de câncer, como próstata, intestino e pulmão. E custa de R$ 10 mil a R$ 20 mil, a depender do hospital e do tipo de cirurgia.

Maior precisão

No caso do diagnóstico do câncer de próstata, o radiologista Marco Freitas afirma que a grande mudança que aconteceu nos últimos anos vem da biópsia transperineal com fusão de imagens. Nesse caso, explica, uma combinação de ressonância e ultrassonografia em tempo real localiza o nódulo, que é acessado através de um furo na pele, na região do períneo, próxima do ânus . “O exame tradicional, feito pelo reto, é mais doloroso, não enxerga o tumor e tem um risco maior de infecção”, detalha o médico, que atua na Clínica Matteoni.

Realizando biópsias prostáticas desde 2012, Marco Freitas passou a trabalhar com o novo método em 2018. Ele explica que na Bahia ainda há poucos aparelhos do tipo, mas acredita que a tendência seja a substituição dos aparelhos antigos, à medida que hospitais e clínicas renovem os equipamentos. E cita a experiência dos Estados Unidos, países da Europa e até São Paulo, em hospitais como o Albert Einstein, que só realiza biópsias pela nova técnica. “A precisão reduz o número de biópsias desnecessárias e aumenta a taxa de detecção de tumores relevantes, que poderiam passar despercebidos por outras técnicas”, reforça o radiologista.

Apesar da gravidade, o tabu e o medo ainda afastam muitos homens dos exames preventivos. “Quando o diagnóstico é precoce, as chances de cura são altas. Mas ainda há muito receio por parte da população masculina. Mostrar que os exames estão mais confortáveis e seguros é um passo importante para mudar isso”, reforça Marco Freitas. O mesmo vale para outro tumor que preocupa muito os homens, o de pênis.

O presidente da Sociedade Brasileira de Urologia Seccional Bahia (SBU-BA), Dr. Humberto Ferraz, aponta que higiene, cirurgia de postectomia (fimose) e a vacinação contra o vírus HPV estão entre as principais medidas para combater esse tipo de tumor.

 

Fonte: https://atarde.com.br
Foto: Raphael Muller | Ag. A TARDE

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