"Os valores morais são os únicos que conservaram os preços de antigamente!"
"Esperanto é a língua universal que não se fala em lugar nenhum do mundo!"
"A liberdade econômica é a condição necessária da liberdade política"
“O SUBVERSIVO DE PAULO AFONSO”
CAPÍTULO IX
Convidado da Regina que ostentava voz ativa na organização, participei nos últimos dias da década de sessenta de três reuniões em endereços diferentes com militantes que usavam pseudônimos e eu pouco ficava sabendo da logística operacional do grupo bélico da VPR. O medo era gritante nos participantes à proporção das noticias que companheiros tinham sido presos, geralmente delatados por outros prisioneiros que, torturados, entregavam os companheiros. A mudança de endereços dos “aparelhos”, (denominação dada pelos opressores aos locais de reunião dos insurgentes,) era constante e imprescindível para segurança dos grupos guerrilheiros. A desconfiança era tamanha entre estes que muitos foram mortos pelos colegas suspeitos de serem agentes das Forças Armadas, infiltrados no movimento revolucionário para miná-lo.
Neste conjunto sobressaiu-se o famigerado “José Anselmo dos Santos, conhecido na história recente do país como Cabo Anselmo, militar e líder durante a Revolta dos Marinheiros em 1963, que deu origem a uma série de eventos que culminaram na derrubada do presidente eleito, João Goulart, pelo golpe de estado de 1964, e na ditadura militar que governou o Brasil nos vinte e um anos seguintes. Agente infiltrado das forças de repressão do governo militar no movimento pela Democracia, Anselmo coletava e fornecia informações que lhes permitiram capturarem subversivos e opositores de esquerda, incluindo sua noiva que, mesmo grávida, foi brutalmente torturada e morreu em uma prisão militar”.
Segundo o elencado no livro, 50 Anos do Golpe, com o AI-5 em vigor, os grupos de esquerda acumulavam ações bem sucedidas com resultados proveitosos. Em maio de 1969, um comando de treze militantes, sob as ordens de Lamarca, adentrou no morro de Santa Teresa, no Rio de janeiro. Lá vivia um irmão de Ana Capriglione, amante do ex-governador paulista Ademar de Barros, morto dois meses antes. Vestidos de agentes da Polícia Federal, os membros da VPR, (Vanguarda Popular Revolucionária), pediram para revistar a casa em busca de “material subversivo” e levaram um cofre que pertencia a Ademar.
Em um “aparelho” no bairro de Jacarepaguá, usando um maçarico, um companheiro abriu um pequeno buraco no cofre e o encheu de água para evitar que o dinheiro fosse queimado durante o corte do metal. Quando todas as notas foram retiradas e colocadas para secar, a VPR tinha 2,6 milhões de dólares. Nunca e em tempo algum, antes, um grupo guerrilheiro tinha levantado tanto dinheiro em uma única ação.
Mas o ato mais impressionante da guerrilha urbana estava por vir, segundo o opúsculo retro citado, ipis litteris, membros da Dissidência Universitária da Guanabara, os jovens Franklin Martins, (futuro ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social do governo Lula), e Cid Queiroz Benjamin planejaram o sequestro de Charles Burke Elbrick, embaixador norte-americano no Brasil. Sem condições de realizar uma ação deste porte, os militantes pediram ajuda da ALN. A organização destacou Virgílio Gomes da Silva, que tinha feito treinamento de guerrilha em Cuba, e Joaquim Câmara Ferreira, braço direito de Mariguella. Na manhã de 4 de setembro, Elbrick foi interceptado em seu Cadillac e levado para uma casa na rua Barão de Petrópolis, no Rio de Janeiro.
O embaixador foi solto dois dias depois. Antes disso, os militares tiveram que se curvar a duas grandes exigências. Aceitaram que os meios de comunicação, então submetidos à censura, divulgassem um comunicado criticando o regime militar. Além disso, o governo libertou 15 presos políticos. No início, as ações armadas foram sucesso. A confiança chegou a ser tão grande que, em 1968, um militante entrou em um banco paulistano com uma maçã na mão e disse: “Assalto outra vez! Todo mundo para o banheiro!” Os militares demoraram a reagir. “Até março de 1969 não havia estrutura montada para a repressão”, afirma um oficial, ativo na época, que não quis se identificar. “os militantes não assumiam a autoria do que faziam, nem a gente acreditava que eles pudessem estar fazendo aquilo.”
Simultaneamente a estes acontecimentos, embasados na máxima popular de que “sem risco não se vence o perigo”, eu e a Regina, eventualmente, distribuíamos panfletos contra o terrível AI-5 nas cidades litorâneas paulistas, e, em uma das praias mais badaladas daquele belíssimo litoral, fomos perseguidos e presos por uma guarnição da PE, (Polícia do Exercito). Sobre isto, o início do “fim do caminho”, o horror, veremos no próximo episódio...
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